Acho que seu nome era Louise

Conheci uma menina uma vez, acho que seu nome era Louise e ela era invisível. Ela era a garota que sempre sentava no fundo da classe, na parede, bem atrás de mim. Até os professores estranhavam ao ver seu nome na lista de chamada. Ela era bem calada, vivia em seu próprio mundo. E, por muitas vezes, ele parecia ser bem mais interessante que o real.

Mesmo que fosse invisível na escola, na rua, todos a viam. E, ela também os via. E eles nem tentavam disfarçar que estavam falando sobre ela, o quanto ela era magra ou isolada, "como se vivesse em uma ilha deserta". Falavam na vizinhança que ela não falava com ninguém e que sempre deixava as cortinas fechadas.


Ela era invisível, mas eu a via. Já havia tentado puxar assunto, estourar sua bolha invisível e conversar com ela, mas eu era covarde demais para isso e as palavras se atropelavam e travavam na minha garganta.

Ela sempre sentava no mesmo lugar, com a cabeça baixa, passava os intervalos sozinha debaixo de uma árvore na parte isolada do jardim ou lendo um livro na biblioteca. Ia embora à pé, andando como se não tivesse aonde ir, como se estivesse sem rumo. Quando chegava em sua rua, abaixava o olhar, tentando evitar ouvir os comentários maldosos dos vizinhos ao redor, entrava em casa, fechava as cortinas da sala e ouvia um disco Folk ou bandas de rock. E como eu sei disso tudo? Bom, eu era seu vizinho.

Já era uma rotina, ela chegava em casa, ia para o seu quarto e, do meu quarto, eu conseguia ouvir a mesma melodia de piano. Todos os dias, praticamente na mesma hora. Era sombrio, melancólico e suave.

Acho que seu nome era Louise, mas não acho que alguém naquela escola realmente saiba seu nome ou de sua existência. E eu assisti enquanto todos a esqueciam. E ela parecia feliz em desaparecer. Mas eu não. Eu queria saber o motivo de nunca tê-la visto sorrir, saber o motivo de ela ir andando para casa como se não fizesse questão alguma de chegar, e eu queria saber o por quê de ser tão fechada ou o por quê de nunca sair.

E, mesmo que eu quisesse saber tudo isso, não tinha coragem suficiente para perguntar. Tinha medo de sua reação, medo de não saber lidar com suas respostas. E, enquanto isso, as paredes altas do mundo dela não impediam que as pessoas falassem, e eu sei que ela ouvia. E que ela se importava, e muito.

Mal sabiam eles que Louise tinha depressão, problemas com auto-destruição, e apresentava indícios de anorexia nervosa. Descobri isso numa tarde de sábado, acordei de repente de um sonho com ela, com o barulho de sirenes do lado de fora. Fui para o quintal e vi um grupo de pessoas se aglomerando na área do meu quintal. Me aproximei e perguntei o que estava acontecendo. Um policial me informou sobre sua depressão. Disse algo como ''Conheci seus pais, ela era solitária.'' E, antes que eu pudesse perguntar algo, uma maca coberta por um pano, passando para dentro de um carro da ambulância fez eu notar que ele se referira a ela no passado.

Ainda me sentia desnorteado pelo sono, havia esperado trinta minutos, uma hora, duas horas no meu quarto, esperei para ouvi-la tocar. Mas caí no sono, e a melodia suave e lenta nunca veio. Perceberia apenas mais tarde que nunca mais iria ouvi-la.

O mesmo policial me deu algumas batidinhas no ombro, como se me consolasse. Disse que ela se enforcou em uma corda, bem ao lado de um piano.

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